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"Não é só por 20 centavos". Será por um Brasil melhor?

Não é só por 20 centavos será por um Brasil melhor
As manifestações que ocorrem em todo o país em junho de 2013 desafiam as antigas formas de protesto entre as pessoas, já que são apartidárias, sem liderança e com reivindicações as mais diversas. Para quem vive NA e DA Internet isto é mais que óbvio e, em minha visão, segue o mecanismo da própria Internet, que é o da descentralização.

Durante as manifestações de junho de 2013 que tomaram o Brasil, analistas, jornalistas e governo declararam que não entediam o que ocorria "nas ruas", cujas palavras de ordem incluíram sempre #VempraRua e #OGiganteAcordou.

As hashtags #VempraRua e #OGiganteAcordou nas ruas
As hashtags #VempraRua e #OGiganteAcordou nas ruas

A meu ver isto mostra o quanto estas pessoas - analistas, mídia e governo - estão completamente deslocadas da realidade, pelo menos da nova realidade, que há um bom tempo ocupa parte importante da Internet.

As manifestações e as redes sociais

Em uma entrevista1 interessante que vi, o jornalista e humorista Marcelo Tas, pioneiro dentre os jornalistas nas redes sociais, disse que "o que vemos hoje é bem diferente das manifestações pelas Diretas Já e Fora Collor, estas guiadas por jornais, redes de TV, centrais sindicais e partidos. As manifestações atuais se deram principalmente por meio das mídias sociais e sem uma lideranca certa."

Para quem vive NA e DA Internet isto é mais que óbvio e, em minha visão, segue o mecanismo da própria Internet, que é a descentralização. Várias coisas funcionam há muito tempo desta forma na Internet como, por exemplo, o fórum 4chan.org, os ativistas hackers do Anonymous e até mesmo o Bitcoin, uma moeda que só existe na Internet e que é descentralizada, não precisando de um banco central para funcionar.

Todos estes são exemplos de coisas que funcionan sem um líder ou liderança bem definidos. Elas operam basicamente por dois conceitos:

Enquanto isso tudo estava preso na Internet ninguém ligava, seja governo, seja imprensa, sejam analistas, pois, afinal, tudo era virtual mesmo. Mas no momento em que, repentinamente isto saiu do nicho “Internético” e tomou as ruas, muitos se desesperaram, não entenderam, fugiram, usaram de força bruta e outros tentaram fingir que não era com eles.

Se esta gente que anda apavorada em perder o poder, que apresenta programa de TV focada na bandidagem ou jornalista que desfila pelo Congresso tivesse, algumas vezes por mês, acessado alguma rede social, como o Facebook, ou certos blogs por aí, já teria percebido, há muito tempo, que estava incubado nas pessoas aquele tal “viruszinho” da indignação. E não é só indignação pelos políticos que temos não, indignação também pelo chamado “jeitinho brasileiro”.

O Jeitinho brasileiro é nosso pior problema, pois a política reflete exatamente ele
O Jeitinho brasileiro é nosso pior problema, pois a política reflete exatamente ele

Digo isso porque já há muito tempo vejo nos posts do pessoal, pelo menos uma vez por dia, algo sobre corrupção, sobre PEC 37, sobre político ganhando para não trabalhar, carga tributária abusiva sem retorno social, corrupção e por aí vai. Porém estes posts eram pontuais, tímidos, as pessoas curtiam e compartilhavam porque é bacana e tal, mas nossas bundas continuavam na cadeira. O vírus da indignação estava apenas incubado mesmo.

Surgem então as manifestações contra o aumento de 20 centavos nas tarifas de ônibus, trem e metrô da cidade de São Paulo, lideradas pelo movimento Passe Livre. Logo vem a repressão policial contra os manifestantes por ordem do governo de São Paulo para impedir que o trânsito fosse afetado (afinal eram um bando de baderneiros). Mesmo a imprensa inicialmente tratou os manifestantes como arruaceiros, não fazendo distinção entre quem protesta e “quem não presta”. As câmeras apontavam, principalmente, para a desordem, pois é isto que dá manchete.

Charge mostrando que a mídia foca no quebra-quebra, que é o que vende matéria
A mídia foca no quebra-quebra, que é o que vende matéria

Tudo que explode precisa de um estopim

Hoje parece ser consenso que os protestos não seriam muito mais que uma causa jogada no vazio pelas autoridades se não fosse a dura repressão, especialmente no dia 13 de Junho de 2013. Esta repressão, que vitimou não só manifestantes mas também jornalistas, parece ter sido o estopim que sensibilizou parte da população e a imprensa.

Esta mesma imprensa que no geral tratava os manifestantes como meros vândalos, após ver seus companheiros feridos e pesquisas de opinião a favor dos manifestantes, passou a enfatizar que os baderneiros eram uma minoria infiltrada. A partir de então, o movimento tomou proporções épias, especialmente na segunda feira, dia 17 de junho de 2013, em São Paulo e que de certa forma definem o estopim para os protestos em todo o país.

Uma cena que deixou isto claro, a meu ver, foram os manifestantes defendendo a entrada da prefeitura de São Paulo conta os vândalos na terça feira, dia 18 de junho, e as imagens que os primeiros divulgaram para ajudar a prender os responsáveis.

Com a força que as pessoas perceberam ter, força esta que estava além das mesas que apoiavam seus computadores, força esta que já não era mais virtual, mas bem real, passou a não ser apenas pelos 20 centavos. Era necessário aproveitar a oportunidade.

Afinal, quem nos representa?
Afinal, quem nos representa? Fonte Angeli

Como os cartazes por toda parte diziam era também pelo cansaço em ver, todos os dias, corrupção, superfaturamento, violência, impunidade, carga tributária, falta de saúde, educação precária, gastos excessivos e desvidos nas obras para a Copa... tudo que estava preso na garganta saiu, gente de todas as classes e idades e um fenômeno interessante acompanhou os protestos, os manifestantes, em sua grande maioria, se declaravam apartidários, inclusive com vaias aos manifestantes de partidos políticos que insistiam em levantar suas bandeiras.

Que país é este, sem partidos?

Não soa um pouco estranho em nosso país este tipo de “apartidorismo”, já que temos mais de 30 partidos oficialmente registrados no Brasil? Alguns deles fazem parte de nossa história recente nos movimentos sociais, inclusive liderando-os e, em muitos casos, aproveitando-se dos mesmos como plataforma, promovendo pessoas e ditando ações em benefício próprio.

Parece que uma parte das pessoas entendem que não adianta mais acreditar ou seguir partidos, pois o partido que hoje está nas ruas, gritando e protestando, poderá estar no poder daqui a alguns anos, mandando as tropas baterem e atirarem, ou participando das falcatruas que antes denunciavam.

Falando um pouco mais sobre o sentimento de rejeição contra as bandeiras dos partidos vale aqui citar o professor de historia contemporânea da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira 3, que afirma que “um país precisa de partidos políticos se não ele cai na Ditaduta”. Acredito que este tipo de temor pode ser mais um efeito da própria incompreensão do que algo real.

Porém, ao olharmos novamente nas redes sociais, durante o período em que as manifestações acontecem, percebemos que este “apartidarismo” pode ser enganoso, até falacioso, pois as pessoas X continuam a atacar o partido A e as pessoas Y o partido B. Aonde está esta tal independência de partidos?

Nas ruas as manifestações buscam uma transformação social do país. O apartidarismo ocorre para gerar união entre todos e não cisões e disputas. Cada um continua com suas preferências políticas, mas as desilusões são muitas sobre o sistema político do Brasil.

Que país é este sem partidos?
Que país é este sem partidos?

A tomada do Congresso Nacional na segunda, dia 17 de junho de 2013, pelos manifestantes e a fuga de sua excelência José Sarney, pela porta dos fundos, para mim é o símbolo do que as pessoas esperam e o que muitos dos políticos e partidos representam no Brasil de hoje.

Sarney foge do congresso pela porta dos fundos

O que está acontecendo? Mas isto já aconteceu antes!

Movimentos sem líder, que tem um caráter mais cívico do que partidário, com demandas comuns a todos, não são apenas fenômenos da Internet ou do Brasil. Segundo analistas internacionais movimentos como Occupy Wall Street, os Protestos na Inglaterra em 2011, manifestações por causa da crise financeira na Europa e a Primavera Árabe não exemplos de movimentos que também não possuíam líderes. Assim como no Brasil estes movimentos começaram pequenos, com demandas concretas e depois de abusos policiais ganharam força.

Apóio os protestos DELES, mas...

Ouvindo aqui e alí em consultórios e escritórios pude verificar que muita gente considera as manifestações “deles” muito justas, mas que não deveriam atrapalhar o caminho [de quem trabalha] para casa ou para os compromissos de negócios. Para certas pessoas manifestações e reivindicações, lutar por um bem, mesmo que seja um direito de todos, inclusive de quem não precisa ou está dispensando isso por hoje, é a luta “dos outros” e não de todos. Estes não querem sair de suas zonas de conforto porque pegar transporte público ou usar o hospital público não é para eles, e por isto acham que não precisam lutar por nada.

Resultados e novas reivindicações

Então vieram as conquistas, pelo menos com relação a reivindicação inicial das tarifas de transporte, que caíram de cidade em cidade, até chegar a São Paulo, que não teve como manter sua posição mediante tanta pressão.

Dia 19 de junho4 prefeito e governador anunciaram a redução de R$ 3,20 para R$ 3,00 para as tarifas de ônibus, trens metropolitanos e metrô.

Apesar disto os protestos e as demandas não pararam, elas apenas aumentaram e se espalharam por todo o Brasil, tanto em grandes capitais quanto em cidade menores, com direito inclusive a vídeo do grupo Hacker Anonymous, o que foi chamado de “As 5 causas das manifestações no Brasil” e que foram rapidamente adotadas por várias pessoas e criticadas por outras como “meramente midiáticas”.

Vídeo atribuído ao Anonymous com a chamada "As 5 causas das manifestações no Brasil"
As 5 causas das manifestações no Brasil, supostamente segundo o Anonymous
As 5 causas das manifestações no Brasil, supostamente segundo o Anonymous

É neste ponto que alguns analistas afirmam que as manifestações perderam-se, que quando se protesta por tudo acaba-se não protestando por nada. Outros afirmam que, pelo fato de não haver um interlocutor formal para apresentar reivindicações ou para estabelecer uma negociação o movimento perde força.

Porém, segundo o professor Teixeira3, os políticos já sabem quais são as demandas da população (verbas do petróleo para educação, segurança, cumprimento das penas dos políticos já condenados...). Desta forma, podemos dizer que a interlocução deve ser feita como toda a população por meio da aprovação das leis que beneficiam as pessoas e revogação de projetos que as prejudicam.

E pelo que podemos ver tudo isto já traz resultados, além da redução das passagens, em discurso pela TV em rede nacional na Sexta Feira, dia 21 de Junho, a Presidenta Dilma Rousseff fez anúncios importantes para o país e afirmando que “as vozes das ruas estão sendo ouvidas”.

Vídeo do pronunciamento em rede nacional do dia 21 de Junho de 2013

No pronunciamento ela coloca em pauta algumas das reivindicações mais importantes, salienta o direito de protesto e manifestação, mas sem violência, e tenta se ligar ao movimento falando sobre a Ditadura e como as pessoas, naquela época, eram torturadas e mortas por fazer o que hoje milhões fazem nas ruas. Infelizmente ela erra no ponto em que clama pelos líderes, que não existem. Quem clama são as pessoas!



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