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Problematizando a Educação

Qual seria a "verdadeira" função da educação para o ser humano? Qual o seu objetivo mais fundamental?

Primeira Parte do artigo

Esta é uma questão que me incomoda desde os tempos de colégio e, principalmente do segundo grau, no qual sentia-me "sufocada" com tantas fórmulas a serem decoradas e teorias que eu deveria saber, sem que, para mim, ficasse claro o objetivo e sentido que tudo isso tinha para a minha vida, a não ser para passar no vestibular.

Mesmo nessa época, sempre acreditei que o papel da educação estava incompleto, pelo menos na escola que eu freqüentava. Faltava discutir sobre, por exemplo, ética e cidadania. Que significado tem para nós sermos cidadãos? Como saber se o meu ato é moral ou ético ?

Acredito que isso deva fazer parte da educação. É claro que acho que a família também tem haver com isso, mas nem por isso acredito que a escola, que se propõe a educar, fique de fora e não propicie aos alunos esse tipo de reflexão.

Para iniciar essa discussão acredito ser importante a definição do que é educação.

Paulo Freire (1970) definiu a educação como sendo a consciência crítica de uma realidade, que leva a uma ação efetiva. Desse modo, segundo Reimer (1975): "(...) Um homem bem educado compreende o mundo suficientemente bem para enfrentá-lo racionalmente." (p.151) (não acho que esta era a "educação" a qual o colégio em que estudei se propunha e nem a de muitos outros)

Mas o que seria possuir "a consciência crítica de uma realidade" ? Segundo Rios (1995), "A crítica funciona como um farol (...) que, no mar, existe para iluminar o caminho, e não para dizer qual o caminho a seguir, pois os caminhos são múltiplos, os ritmos em que se caminha são múltiplos, assim como são múltiplos os objetivos que se tem ao caminhar.
  Foi o gesto da reflexão, de fazer indagações críticas, continuamente, que permitiu que tivéssemos uma história da moralidade, da cultura, da sociedade humana, porque os homens que se inquietaram, que fizeram perguntas provocaram uma discussão sobre sua conduta e criaram espaço para a possibilidade de uma transformação".
(p.128)

Assim como Paulo Freire, Piaget (1988) também possui uma opinião semelhante: "O objetivo da educação intelectual não é saber repetir ou conservar verdades acabadas, pois uma verdade que é reproduzida não passa de uma semiverdade: é aprender por si próprio a conquista do verdadeiro, correndo o risco de despender tempo nisso e de passar por todos os rodeios que uma atividade real pressupõe". (p.61)

Assim, muitas vezes a educação numa escola não passa de um mero repetir, sem reflexões e críticas em relação ao conhecimento transmitido. É nesse campo que as reflexões de Charlot (1979) sobre a Pedagogia podem ser enriquecedoras. Charlot acredita que a Pedagogia é ideológica, porque oculta seus fins sociais e considera-se neutra. Porém, na verdade a educação é política já que transmite modelos sociais de comportamento, forma indivíduos a partir de normas que refletem as realidades sociais e políticas, transmite as idéias da classe dominante e, além disso, a escola é uma instituição social e, portanto, possui uma organização e funcionamento que dependem das relações de forças sociais e políticas.

Segundo Charlot (1979), "A educação é, ao mesmo tempo, um processo cultural individual e um fenômeno social. A pedagogia, teoria da educação, põe em evidência o primeiro aspecto da educação e oculta o segundo. Mascarando assim a importância social da educação por trás de seu sentido cultural, a pedagogia desempenha um papel ideológico". (p.31)

Assim o objetivo da educação na maioria de instituições escolares não passa de uma reprodução da sociedade.

"A verdadeira educação é uma força vital. As presentes estruturas sociais não sobreviveriam a uma população educada, mesmo que somente uma substancial minoria fosse instruída. Algo mais do que o simples ensino escolar está em jogo. As pessoas são treinadas para aceitar uma determinada forma de sociedade. São educadas para criar e recriar uma sociedade". (Reimer, 1975, p.151)

Coimbra (1989) faz uma revisão histórica sobre a instituição escolar. Segundo essa autora, "Sabemos que a educação sempre existiu; que educar era viver a vida do dia-a-dia da comunidade, ouvindo dos mais velhos as suas experiências e com isso formando-se para atuar em comunidade".(p.15)

Não havia a necessidade de uma instrução específica para a educação. Todos os adultos mais velhos ensinavam.

Foi a partir do século XVII que a Escola surge como instituição nos moldes atuais. Portanto, seu aparecimento está ligado ao desenvolvimento do capitalismo e cai com isso o mito de que a escola sempre existiu, atendendo a uma "necessidade natural".

A Revolução Industrial trouxe a necessidade de um maior número de pessoas que soubessem ler, escrever e contar e a burguesia, já no poder, percebeu a necessidade de educar a massa trabalhadora das cidades para formá-los como "bons" cidadãos e trabalhadores disciplinados.

"... Com isso, vemos a Escola surgindo com claras funções: inculcar a ideologia burguesa e, com isso, mostrar a cada um o lugar que deve ocupar na sociedade, segundo sua origem de classe". (Coimbra, 1989, p.15)

Assim, a instituição escolar passa a ser fundamental para o desenvolvimento e fortalecimento do capitalismo.

Althusser, Bourdieu, Passeron, Baudelot, Establet, Poulantzas e outros: "Consideram a Escola como Aparelho Ideológico de Estado, pois é o instrumento número um da burguesia, visto difundir a sua visão de mundo e de vida". (Coimbra, 1989, p.15)

Assim tudo é visto como natural e como se a escola fosse neutra e desse oportunidades iguais a todos - o que não é verdade, já que somente os oriundos das classes média e alta que vão para uma Universidade e são considerados "melhores" por isso. Assim, há a reprodução e fortalecimento da divisão de classes da sociedade.

(CONTINUA NO PRÓXIMO ARTIGO)



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