A necessidade da mortificação do olhar
A visão humana é falha. Falsas impressões nos são passadas da realidade, muitas vezes conturbadas, sem foco e desmerecidas de credibilidade. Mas, aos que apenas enxergam com saúde, isso não é refletido. Vivemos em uma era onde a tecnologia elimina a essência dos momentos, dos objetos, da realidade em geral, para deixar apenas a sua aparência, as sombras da realidade, assim como na alegoria da Caverna de Platão.
O pensamento é posto em segundo plano, já que o audiovisual transmite uma falsa impressão de confiabilidade. A velocidade com que essas imagens são jogadas frente à visão, dificulta o emprego da imaginação e do pensamento do ser. Não há pausas para reflexão, fazendo com que as imagens sejam lançadas frente aos olhos e, por seguinte, esquecidas para serem substituÃdas pelas próximas. Rapidez. Fluxo constante. Incansável.
A realidade para os deficientes visuais é imaginada, refletida. Estes são dispensados de enxergarem imagens alienantes e enganosas que os rodeiam, tornando a reflexão como principal elemento para compreender a realidade. Outros sentidos tornam-se apurados, sendo eles utilizados em conjunto para a percepção do mundo. Não se trata da simples aceitação do que se sente, mas sim a interpretação em busca de significados substanciais, não apenas concretos e já moldados por outros.
A formação da realidade deve ser elaborada a partir da união das sensações e das ideias. Sem as primeiras, as ideias não terão fundamentos reais, podendo criar realidades abstratas e surreais; as sensações, sozinhas, também não possuem fundamentos, pois o tempo e local variam o objeto, criando verdades mutáveis e duvidosas.
O equilÃbrio entre o ser e o parecer deve ser encontrado para que se saiba ver e não apenas enxergar o mundo real. Os sentidos devem trabalhar em conjunto, sempre levando suas percepções à mente, para que seja realizada a reflexão e as ilusões expostas pelas imagens sejam descartadas. Os olhos devem ser parcialmente mortificados para que a responsabilidade do ver seja compartilhada com os outros sentidos e finalizada no pensamento.