A contestadora Street Art do misterioso Banksy
Talvez você nunca tenha ouvido falar em Banksy, a não ser é claro que goste de street art ou seja um artista do movimento, mas duvido que nunca tenha visto esta imagem:
Caso você realmente nunca ouviu falar sobre ele apresento-lhe Banksy:
"Graffiti não é a mais baixa forma de arte. Apesar de ter que rastejar por ai à noite e mentir para sua mãe, ela é a mais honesta forma de arte que existe. Não existe elitismo ou propaganda, é uma exposição de arte localizada nos melhores lugares que uma cidade pode oferecer e ninguém deixa de ir por causa do preço do ingresso. Um muro sempre foi o melhor lugar para exibir seu trabalho. As pessoas que comandam nossas cidades não entendem o que é Graffiti pois para eles tudo que não gera lucro simplesmente não tem o direito de existir. [..] Quem realmente estraga nossa cidade são as companhias que rabiscam seus gigantescos slogans em prédios e ônibus tentando fazer-nos inadequados, a não ser que compremos seus produtos?"
Por que Street Art? Por que Banksy?
Há muito tempo queria escrever algo sobre Banksy, pois existe algo em seu trabalho que me dá vontade de explodir! A força de sua arte, o desafio que traz em si e seu anonimato são ingredientes muito poderosos e atrativos. A rua também é um elemento poderoso e pode ser tanto algo amedrontador quanto libertador, depende da perspectiva de cada um.
Mas para escrever sobre este artista não poderia basear-me pura e simplesmente em achismos e sentimentos. Eu tinha que pesquisar mais sobre quem é este cara, ler algo que ele escreveu ou falou, conhecer mais de suas obras, saber sobre sua origem e com quem andou.
Não sei se consegui fazer bem alguma destas coisas, pois o trabalho de pesquisa é algo que nunca acaba e a cada momento novos elementos surgem, porém o texto fica preso em uma certa posição do tempo (ainda bem que não mais do espaço graças a Internet).
O presente artigo é esta prisão, fruto do momento em que escrevo sobre o que consegui aprender sobre um artista sem face, mas nem por isso sem alma!
Arte: um exercÃcio de retórica ou uma janela para o questionamento?
Definir arte é deveras complicado. Arte às vezes pode ser aquilo que está em uma galeria, como criticou Duchamp, arte pode ser aquilo que alguém produz simplesmente para vender, arte pode ser aquele objeto que enfeita a parede da sala ou combina com os móveis.
Das inúmeras definições do dicionário Houaiss, arte pode ser desde a "produção consciente de obras, formas ou objetos voltados para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana"
até a "habilidade para fascinar, seduzir ou enganar; ardil, artimanha, astúcia?"
Realmente não foram poucas as vezes em que me senti enganado ao entrar em alguma galeria, exposição ou mostra.
Para mim a arte é toda a criação humana que questiona, que faz pensar e que, ao mesmo tempo, mexe com os sentidos, com a emoção.
Apesar de ser muito difÃcil definir, é incrÃvel o fato de que quando vejo algo que se ajusta as minhas definições logo reconheço: isso, isso é arte! Banksy é arte da mais seminal que conheço!
Mas o que Banksy acha a respeito da arte?
"A Arte é feita por um seleto grupo. Este pequeno grupo cria, promove, compra, expõe e decide sobre o sucesso desta Arte. Somente algumas centenas de pessoas no mundo tem realmente alguma coisa a dizer. Quando você vai a uma galeria de arte você é simplesmente um turista olhando uma vitrine de troféus de alguns poucos milionários."
Acredito que foi ele um dos primeiros artistas de street art que me chamou a atenção (junto com os Gêmeos) para o que antes imaginava ser pura e simples pichação.
Talvez isso fosse um reflexo de minha educação pautada no que é certo, nos valores tradicionais, na não contestação da autoridade. Banksy é o destilado mais puro, a quÃmica mais sintética, a erva mais potente da contestação.
A máscara por trás do artista
"Os maiores crimes mundo afora não são cometidos por pessoas que quebram as regras mas por aquelas que as seguem. São estas pessoas que seguem ordens que lançam bombas e massacram vilarejos."
Talvez uma das coisas mais curiosas e/ou interessantes a respeito de Banksy, depois é claro de sua arte, seja o fato de sua identidade ser completamente desconhecida, o que faz com que os boatos sobre sua pessoa aflorem como água em um manancial.
O pouco que se sabe é que ele nasceu em Bristol, Inglaterra, e que é artista plástico, escultor e diretor de documentários. Seu ano de nascimento, seu nome verdadeiro e os demais dados são apenas especulações feitas aqui e ali não sendo muito seguro apontá-las como certas.
Não podemos descartar também (até acredito que seja o mais provável) que Banksy seja na verdade não um, mas vários artistas, um grupo de contestadores que juntaram-se em torno de um nome e um não-rosto. Não seria novidade nenhuma na história das artes algo do tipo porém, para facilitar a minha vida ao escrever este artigo, vou tratá-lo como se fosse uma pessoa real.
No começo Banksy tentava procurar um nome para assinar seus trabalhos. Um deles, Robin Banx (robbing banks) acabou evoluindo para Banksy, mais fácil e sonoro. Podemos ver que este apelido fala muito sobre sua arte e seu posicionamento contra o capitalismo.
Apesar ter começado a fazer graffiti à mão livre logo passou a adotar a técnica de stencil, o que permitia-lhe terminar mais rapidamente seus trabalhos e assim não ser pego pela polÃcia, já que na Inglaterra é ilegal grafitar ou pichar.
"[...] fiquei durante uma hora inteira escondido debaixo de um caminhão de lixo com óleo vazando em cima de mim. Enquanto estava lá embaixo e ouvia os tiras me procurando, percebi que tinha de pintar na metade do tempo ou desistir de fazer isso para sempre".
Sua arte expressa um sentimento pacifista, anti-capitalista, inconformista e contra as coisas como apresentam-se (status quo).
Sua visão do mundo é deveras contundente. A opressão é um mal, seguir as regras estabelecidas e que negam o ser humano são um mal, permanecer no "status quo" é um mal, não se expressar é um mal, assim como é um mal viver sob a sombra de Ãcones, muitas vezes tornado pop apenas para ter o sentimento de que se é um revolucionário, um "outsider" quando na verdade se é apenas um boneco que compra idéias e coisas no primeiro supermercado da esquina.
"Todo sábado o mercado debaixo do viaduto [que passa por cima da Portobello Road, West London] vende camisetas, bolsas, babadores e botons com a estampa de Che-Guevara. [...] As pessoas acreditam que vestindo-se como revolucionárias não precisarão comportar-se como revolucionárias."
Os locais onde deixa sua marca acabam por tornar-se pontos turÃsticos, tanto de curiosos quanto de amantes das artes. Alguns até mesmo declaram que os locais acabam por ter seus preços elevados por serem "locais onde Banksy passou". Parece que apesar de sua crÃtica ao capital os engravatados negociantes acabaram por transformar sua revolta contra o sistema em algo inserido dentro do próprio sistema. Seria este o paradoxo da arte que questiona? Tal paradoxo é reforçado no documentário "Exit Through the gift shop" em que a street art e o dinheiro passam a misturar-se de uma forma peculiar.
Sua atuação não se restringe a Londres, Bristol, Liverpool ou a alguma outra cidade inglesa. Suas chamadas "residências" (perÃodos em que vive por dias ou semanas em um lugar) já tiveram lugar em Paris, Palestina, Barcelona, Sydney, São Francisco e Nova York.
A Palestina, por exemplo, é o tÃpico local onde Banksy pode "soltar" sua crÃtica de maneira extremamente ácida. A conversa abaixo com um palestino mostra bem como a arte e a polÃtica misturam-se em sua obra:
Senhor de idade: "Você pintou o muro, você o fez parecer bonito. Banksy: Obrigado. Senhor de idade: Não queremos que ele fique bonito, nós detestamos este muro, vá embora!"
Banksy é realmente um artista admirável e completamente fora dos padrões. Um exemplo são suas "invasões" a museus, em que coloca na surdina seus trabalhos que geralmente questionam o valor da arte. Com disfarces e um pouco de jogo de cintura Banksy literalmente "samba na cara da sociedade burguesa
".
Só o filé
Como o trabalho de Banksy é bastante extenso decidi reunir um pouco do que acho melhor em cada estilo para que os leitores possam conhecê-lo.
Graffiti
Intervenções
Escultura
Artes plásticas
Documentários e vÃdeos
"Exit Through the gift shop" está envolto em uma polêmica: será um documentário verdadeiro sobre Street Art ou um "Mokumentary" (documentário falso)? Acredito que qualquer das duas opções será irrelevante pois o filme é excelente.
Exit Through The Gift Shop por AceVideos
Better Out Than In - Mostra o artista em sua estada em Nova York
Make this the year YOU discover a new destination
Invasão de museus
Conclusão
Banksy pode ser uma pessoa ou um grupo, pode ser contestador mas ao mesmo tempo um capitalista, ele pode ser um gênio ou apenas um enganador, tentando usar a subversão de sua arte para ganhar dinheiro.
Nada disso importa em mina concepção! O que realmente importa para mim é ver um trabalho seu e perder alguns minutos pensando: por que nunca pensei sobre isto antes?