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A infância na pré-escola e o desenvolvimento infantil.

Conheça as mudanças familiares e sociais e suas conseqüências na infância e as necessidades das crianças e o papel das creches e da pré-escola.

As circunstâncias da situação familiar hoje mudaram bastante, por isto, a condição da infância também mudou. Antes, a criança nascia em uma família tradicional com mãe, pai e irmãos e conviviam imersas neste contexto. Hoje, grande parte das crianças passam horas em algum jardim da infância ou pré-escola. Outras precisam ser muito compreensivas para entender que precisam passar um final de semana com a mãe e outro com o pai.

O conceito de pré-escola também vem mudando com o tempo; antes era um lugar aonde as crianças iam para que os pais, especialmente as mães, pudessem fazer algo. Hoje, o tempo de permanência nestas instituições está aumentando cada vez mais. Alguns especialistas tentaram argumentar que as crianças deveriam ficar até 8 horas na escola, pois do contrário seria prejudicial para o seu desenvolvimento, mas os pais estão cada vez mais preocupados em trabalhar, pois todos preferem ter um poder aquisitivo melhor.

Antes, o lar com mãe, pai e irmãos era o lugar onde a criança podia se sentir sã e salva. Hoje, estas passam muito tempo em alguma instituição, onde aprendem realizar várias atividades, praticam ginásticas e outras coisas e, enquanto isto, está cada vez mais difícil sentir-se são e salvo. O espaço é coletivo, os brinquedos, o material, tudo pode ser compartilhado, enquanto a criança precisa ter um canto em que se sinta confortável, que sinta como seu refúgio, sentir confiança no espaço e nas pessoas, em si mesma.

Então do que a criança precisa?

As crianças pequenas estão tão abertas que dizem sim a tudo que for oferecido à elas: se colocá-las em frente à televisão, vão assistir televisão, se levá-las ao parque, elas vão. Então é preciso te consciência disto ao cuidar de crianças nesta faixa etária.

As crianças precisam de amor, criar raízes, fazer amigos, conviver socialmente. Isto fica difícil se estiverem o tempo todo ocupadas com atividades.

A criança pequena não é um ser social, mas está em processo de tornar-se um. Ela pensa que o mundo é ela e ela é o mundo. Então, precisamos tratá-la considerando que ela pensa que é o centro de tudo; se ela pega o brinquedo de outro ou bate em alguém não faz isto de propósito, mas porque pensa que é capaz de tudo.

“Não é necessário que façamos muitas coisas, mas sim que estejamos presentes em tudo o que fazemos” (Helle). Para satisfazer às necessidades das crianças precisamos sintonizar, estar perto, observar, compreender e, assim, encontraremos as respostas e as formas de satisfazer as necessidades delas.

E quais são estas necessidades?

1- Caminhar e movimentar-se:

Outro problema está relacionado ao fato das crianças não se movimentarem – aqui em São Paulo isto é bem evidente, pois ninguém quer levar seu filho para andar na rua visto que pode ser perigoso, então as crianças passam muito tempo sentadas e seus corpos acabam não sendo treinados para o movimento. Nos primeiros 7 anos de vida o movimento é essencial para o desenvolvimento dos músculos. Além disso, ao se mexer, conexões cerebrais são ativadas contribuindo para a capacidade de pensar e ser criativo. Se você quer ter crianças inteligentes, façam-nas se mexer, do contrário, mantenha-as sentadas.

2- Dormir:

Hoje muitos pais tem se queixado de que não conseguem fazer seus filhos dormirem, nem de dia, nem de noite, e sabemos o quanto dormir é importante para as crianças, pois é neste período que elas absorvem tudo o que aprenderam e o corpo se renova.

Na pré-escola, com muitas crianças e pouco espaço, pode-se incentivar que a criança durma em uma pequena caminha até no exterior da escola, no jardim ou olhando as árvores e, assim, ela aprende a se acalmar e pegar no sono sozinha. Em casa, os pais podem ensiná-la a fazer uma oração e ir dormir, pois se ela aprende a pegar no sono sozinha, podem dizer “agora vá dormir, boa noite”.

3- Comer:

Se a criança se movimenta, ela tem sono e também come mais. Comer hoje em dia também tem sido um transtorno. Andar deixa-a com fome, então não se trata de comer isto ou aquilo porque este eu gosto e aquele não, ela comerá simplesmente porque quer comer, está com fome.

O que a criança come é muito importante. Consumir trigo e açúcar ficou mais fácil, pois ao darmos biscoitos e bolachas também nos tornamos queridos pelas crianças- e quem não quer ser querido. Contudo, aumentando o nível de açúcar no sangue a criança fica hiperativa, e quando o nível de açúcar cai, ela se torna agressiva e quer mais açúcar para ter energia. Então, caminhando e se movimentando, as crianças voltam famintas e comem de tudo porque estão com fome, é um incentivo para que comam coisas que demorem mais a ser digeridas e, por isto, sustentam mais. Depois dormem umas duas horas e ao acordar, estão cheias de energia para o final da tarde e irem para casa com disposição para se relacionarem com seus pais que, por sua vez, ficam aliviados ao saberem que não precisarão caminhar nem levar o filho para atividades físicas, pois este já teve tudo que precisa em seu período na escola.

4- Relacionar-se:

Para as crianças menores, é essencial que elas não se espelhem somente nos coleguinhas da mesma idade, por isto é benéfico que se relacionem com outras maiores.

Helle exemplifica que em sua escola as crianças maiores passam um tempo em atividades com as menores e ganham a tarefa de ajudar nos cuidados destes. Assim, a criança pequena tem uma noção de onde vem e para onde vão, e as maiores, quando vêem como as menores são gentis e abrem o seu coração, percebem como é bom ajudar, sentem-se importantes e grandes em ajudar. Em nossa sociedade muitas crianças são criadas como filhas únicas ou tem irmãos de idades muito diferentes, por isto, não observam como se cuida de alguém e, como aprender algo que não se teve exemplo? Vendo como se cuida e sentindo-se cuidado é que as tornarão capazes de cuidar. Assim, este aprendizado vai para toda a vida e será muito importante para o momento de se tornarem pais e cuidarem de seus filhos. Em contrapartida, estimula-se uma forma das crianças se sentirem protegidas. Alguns se adotam mesmo como irmãos e a relação continua além do jardim da infância, na vida adulta. Desenvolvem sentimentos fraternais.

Desta forma, pequenos e maiores, de 0 a 7 anos, ficam juntos em diversas atividades nas quais o maior ajuda no banho, na refeição, a se vestir, etc. sempre com a supervisão de adultos para que nada de errado ocorra.

O papel dos educadores:

Por isto, trabalhar com a infância exige energia, presença e requer dos educadores um trabalho interno de autoconhecimento, no sentido de que o adulto precisa saber respeitar as crianças em seu ritmo, seu tempo, direcionando-as sem impor o seu jeito de ser, não querendo transformá-los em cópias do que ele é ou acha que seja melhor ser. Para que cada um siga seu caminho é preciso deixar que façam desde cedo suas escolhas, então é preciso estar presente sem interferir, somente quando necessário. Saber observar e participar na medida certa.

Qual a função de se estar numa creche ou pré-escola?

Aprender habilidades sociais. E isto não será possível para a criança se não se souber como cuidar. Cuidar de alguém é uma das coisas mais importantes na vida e, se não cuidamos e não nos sentirmos cuidados, não seremos capazes de fazer isto. Isto faz com que nos sintamos sãos e salvos.

É de suma importância a criação de um espaço para que as crianças possam se relacionar umas com as outras, criar suas próprias experiências e ter privacidade. Evidente que sempre um adulto deve estar ciente do que está acontecendo para que nada de ruim aconteça.

E se você fizer coisas interessantes, as crianças virão até você.

O aprendizado na pré-escola:

Na América do Sul, do Norte e por toda a Europa (Helle) há uma tendência a um aprendizado acadêmico precoce, onde as crianças são forçadas a aprender mais rápido do que precisam não se respeitando as individualidades. Se nós não prestarmos atenção a esta necessidade de proteção da infância teremos grandes desastres no futuro próximo. Se tirarmos as crianças da infância, que é o tempo necessário que elas tem para se tornarem seres sociais, forçando-as a terem um aprendizado acadêmico prematuro, nós a destruiremos e não permitiremos que ela descubra quem é a partir de si mesma.

Olhar para cada criança como indivíduo, considerar que cada individualidade é algo especial e respeitar que cada um deve descobrir o seu caminho exige muita energia e percepção de quem cuida das crianças. Por isto, precisamos desenvolver nosso interior para não forçá-las a ser quem nós queiramos que sejam. Então, no jardim da infância, não somos professores no sentido de que tenhamos que ensinar e sim guiá-las e suprir suas necessidades.



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