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Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças

Tem muitos amigos meus que quando vêem o Jim Carrey só conseguem lembrar das caretas do “Máscara” e ponto final. Talvez esta seja também a opinião de muitas outras pessoas e quem sabe por isto desistam de assistir aos demais filmes estrelados por este grande ator.

Então se você se encaixa no perfil que assinalei acima não desista de assistir a este magnífico filme. Mas por qual motivo ele deveria ser assistido, afinal?

Dor, ninguém quer tê-la

O filme trata de relacionamentos, mas não da maneira que estamos acostumados a ver nos cinemas, aquela coisa pegajosa, clichê. Seu enfoque é direcionado para o “depois que tudo acaba”. Tirando-se os raros casos em que um relacionamento intenso terminou “numa boa” o comum é que muita dor e ressentimentos se apossem dos ex-amantes. Muitas vezes a angústia, frustração e solidão são tão grandes que atos desesperados podem ser perfeitamente esperados.

Mas o que fazer com todo este sofrimento, as lembranças? Guardar para sí? Descarregar em algum lugar ou em alguém?

No filme o casal Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet) procuram uma saída para este dilema, um especialista em “destruir lembranças”, que se encarregará de apagar, em ambos, tudo que cada um lembrava do outro. Com certeza um método fácil e ágil para não sofrer, bem condizente com nossos tempos onde a praticidade é primordial.

Sofrer ou não sofrer, eis a questão

Mas, assistindo o filme, nos vem a pergunta: “Não existe nunca nada de bom que deva ser preservado de uma relação que acabou?” “A solução mais fácil é a melhor?”.

Hoje basta tomar uma pírula e você será feliz, muito feliz, não importa o que tenha acontecido. Esta praticidade a que o mundo moderno nos introduziu parece ser uma benção. O indivíduo, em hipótese nenhuma, deve sofrer, deve ser frustrado.

Mas o que muitas vezes podemos não perceber é que “não existe o não sofrer”. Estar no mundo é ter sofrimentos, angústias, felicidades, alegrias, enfim é viver. Ao nos negarmos o sofrimento estamos apenas sofrendo mais, e ao nos intoxicarmos com remédios da felicidade estamos apenas nos enganando, postergando.

Sofrer também é aprender, evoluir e no caso dos relacionamentos sofrer deveria ser um momento importante, um momento onde as pessoas deveriam parar para repensar nelas mesmas e na pessoa que foi embora. “Afinal o que houve?” “Houve respeito mútuo?” “Eu respeitei os desejos da outra pessoa, eu fui egoista?” “Eu me enganei na minha procura por um amor? Se sim o que fez enganar-me?”.

O processo de se auto avaliar pode ter consequências fantásticas, muito mais duradoras do que tomar o remedinho da felicidade ou , como no filme, se submeter a um tratamento que destrói tudo, tanto as coisas ruins quanto as boas.

Não é só o roteiro que atrai

Se você gosta de apreciar os detalhes das cenas, montagem, efeitos e etc. tão pouco se arrependerá de ver o filme. A cena em que a casa onde está o casal começa a ser destruída (simbolizando a destruição final de todas as lembranças) é fantástica.

Conclusão

Assistir ao filme, basicamente, me fez pensar se todo relacionamento que estabelecemos e depois terminamos, seja amoroso, amizade ou familiar, acaba por ganhar inevitavelmente o rótulo de “imprestável”. Relações, tanto as bem quanto as mal sucedidas, podem nos trazer muito aprendizado e não só sofrimento.

Portanto, quem sabe, jogar tudo fora seja o mesmo que jogar um saco cheio de pedras preciosas brutas, que apenas precisam ser lapidadas para tornarem-se belos diamantes?



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