Problematizando a Educação (parte 2)
Acredito que a maioria das escolas não dêem lugar para a crÃtica e reflexão acerca da sociedade, pois o poder vigente estaria em jogo.
Em minha opinião, além da famÃlia, a escola também deve ser responsável pela formação moral e pelas noções de cidadania. Porém quando a educação funciona como um desvio, citando a noção de Charlot (1979), na qual o indivÃduo sai de seu cotidiano para ser habilitado pela escola a exercer determinadas funções, ela está se isentando de qualquer responsabilidade. Nesse caso, seu único papel é fornecer ao aluno um aprendizado que habilite a atuar somente profissionalmente na sociedade. E realmente e infelizmente muitas escolas atualmente funcionam dessa maneira. No entanto, será que a escola pode fugir da responsabilidade da formação moral e cidadã ? Acredito que de maneira alguma. Segundo a proposta interacionista de Piaget (1988), o objetivo da educação é promover o pleno desenvolvimento da personalidade humana. E isso só se consegue quando a escola, o educador trabalham de modo a garantir uma autonomia tanto intelectual quanto moral. Isto significa que se deve formar um indivÃduo que saiba pesquisar, conquistar um método de obter conhecimento, e também um indivÃduo que se submeta voluntariamente a uma regra, dado o conhecimento desta e sua relação com o bem-comum.
Como romper com essa escola que só visa a manutenção do poder? O que podemos fazer ?
Não é uma tarefa simples. Há muita dificuldade em modificar a atual dinâmica escolar porque a transformação do sistema educacional trará em seu rastro outras mudanças fundamentais sociais. Uma população educada, no sentido de Paulo Freire, é uma população perigosa para o poder vigente, já que dificilmente será enganada e talvez parta para uma ação efetiva. Para os grandes empregadores e alguns polÃticos é interessante ter uma grande massa da população "sem educação" (aqueles que nunca freqüentaram as escolas ou que freqüentaram escolas que não os tornaram capazes de ter uma consciência crÃtica), pois suas posições se mantém.
Como afirma Reimer (1975), "Nesta sociedade, Paulo Freire é uma ameaça".(p.157)
Coimbra (1989) acredita que a atuação do psicólogo possa operar uma ruptura e tornar possÃvel uma outra lógica e realidade. Na escola há fissuras e campos para atuação, através de nossa prática conflitos e contradições podem ser utilizados a todo momento para questionar modelos impostos como verdadeiros e organizar formas de interferir no cotidiano e nos mitos veiculados pela escola.
Patto (1984) também concorda com isso e acredita que a transformação social deve acontecer no cotidiano do sujeito. Devemos trabalhar com a ressignificação da vida e da história do sujeito. É no espaço do cotidiano que podemos gerar movimentos de ressignificação e revoluções moleculares.
Acho que isso não se refere apenas ao nosso trabalho com as pessoas, mas com nós mesmas, enquanto psicólogas, já que também estamos imersos nessa realidade que nos aliena.
Acredito que essa reflexão tornou algumas coisas mais claras, mas também aumentou meus questionamentos em relação a educação, que é um assunto complexo. Acho que romper com esse tipo de relação de poder é uma tarefa de todos nós enquanto cidadãos, afim de construirmos uma sociedade mais justa e menos alienada.