Como identificar falácias em discussões - fugindo ao assunto
Segundo Stephen Downes "o objetivo de um argumento é expor as razões que sustentam uma conclusão. Um argumento é falacioso quando parece que as razões apresentadas sustentam a conclusão, mas na realidade não sustentam
".
As falácias vem sendo utilizadas ao longo da história humana tanto no dia a dia das pessoas - em casa, no emprego, na escola, na mesa de bar, etc. - quando nas mais altas esferas da polÃtica, justiça, negócios e etc.
Por sua ampla utilização e graças a estudos relativos ao tema a tradição lógica e filosófica procurou agrupar as falácias segundo certos padrões. Ter o conhecimento das principais falácias ajuda-nos muito a identificar problemas argumentativos ao defender nossos pontos de vista ou mesmo ajuda-nos a evitá-las em nossos próprios argumentos.
No presente artigo vamos tratar das falácias do tipo 'Fugir ao Assunto' segundo a classificação de Stephen Downes*.
Falácias do tipo 'Fugir ao Assunto'
Estes tipos de falácias, como o próprio nome diz, buscam fugir dos argumentos em pauta. As falácias desta seção fogem ao assunto discutindo a pessoa que avançou um argumento em vez de discutir razões para aceitar ou não aceitar a conclusão. Em algumas ocasiões é aceitável citar autoridades (por exemplo, citar o médico para justificar o uso de um medicamento) mas quase nunca é apropriado discutir a pessoa em vez dos seus argumentos.
Ataques pessoais (argumentum ad hominem)
A falácia do argumentum ad hominem, mais popularmente conhecido como ataque pessoal, é uma das mais 'naturais' que existem, natural no sentido de que somos constantemente tentados a utilizá-la na defesa ou ataque de um argumento. Seu caráter quase instintivo - talvez por ser mais fácil executar ataques pessoais do que pensar sobre argumentos válidos - faz com que esta seja uma das mais utilizadas.
Nesta falácia ataca-se a pessoa que apresentou um argumento e não o argumento em si. A falácia ad hominem assume muitas formas. Ataca, por exemplo, o caráter, a nacionalidade, a raça ou a religião da pessoa como se fossem questões fundamentais para qualificar ou desqualificar um argumento. Em outros casos a falácia pode sugerir que a pessoa, por questão de interesses, tem algo a ganhar com o argumento. A pessoa pode ainda ser atacada por associação ou pelas suas companhias - "Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és
" -, opiniões anteriormente emitidas e que não tem relação com a discussão e etc.
Podemos destacar três formas da falácia ad hominem:
- Ad hominem abusivo:
- em vez de atacar uma afirmação, o argumento ataca pessoa que a proferiu.
- Ex: "
Podes dizer que Deus não existe, mas está apenas a seguindo a moda
" - Ad hominem circunstancial:
- em vez de atacar uma afirmação, o autor aponta para a pessoa e as suas circunstâncias.
- Ex: "
É natural que o ministro diga que essa polÃtica fiscal é boa porque ele não será atingido por ela
" - Ex: "
Podemos passar por alto as afirmações de SimplÃcio porque ele é patrocinado pela indústria da madeira
" - Tu quoque:
- esta forma de ataque à pessoa consiste em fazer notar que a pessoa não pratica o que diz.
- Ex: "
Diz que eu não devo beber, mas não está sóbrio faz mais de um ano
"
Referências: Barker: 166; Cedarblom e Paulsen: 155; Copi e Cohen: 97; Davis: 80.
Apelo à autoridade (argumentum ad verecundiam)
Ainda que às vezes seja apropriado citar uma autoridade para suportar um argumento, a maioria das vezes não o é. O apelo à autoridade é especialmente impróprio se:
- 1.
- A pessoa não está qualificada para ter uma opinião de perito no assunto.
- Ex: "
O famoso psicólogo Dr. Frasier Crane recomenda que compre o último modelo de carro da Skoda.
" - 2.
- Não há acordo entre os peritos do campo em questão.
- Ex: "
O economista John Kenneth Galbraith defende que uma apertada polÃtica econômica é a melhor cura para a recessão. (Apesar de Galbraith ser um perito, nem todos os economistas estão de acordo nesta questão.)
" - 3.
- A autoridade não pode, por algum motivo, ser levada a sério porque estava brincando, estava ébria ou por qualquer outro motivo. Uma variante da falácia do apelo à autoridade é o "ouvi dizer" ou "diz-se que". Um argumento por "ouvir dizer" é um argumento que depende de fontes em segunda ou terceira mão.
- Ex: "
Caminhamos para uma guerra nuclear. A semana passada Ronald Reagan disse que começarÃamos a bombardear a Rússia em menos de cinco minutos.
" (Claro que o disse por piada ao testar o microfone.)
Referências: Cedarblom and Paulsen: 155; Copi e Cohen: 95; Davis: 69.
Autoridade anônima
A autoridade em questão não é nomeada. Isto é uma forma de apelo à autoridade porque quando a autoridade não é nomeada é impossÃvel confirmar se se trata de um perito. Esta falácia é tão comum que merece uma menção especial. Uma variante desta falácia é o apelo ao rumor. Como a fonte do rumor é, em regra, desconhecida, não é possÃvel verificar se o rumor merece crédito. Rumores falsos e caluniosos são lançados muitas vezes intencionalmente com o objetivo de desacreditar oponente.
Atualmente este tipo de falácia é utilizado à exaustão em artigos de jornais e revistas. Com a prerrogativa do 'anonimato da fonte' jornalistas se esbaldam ao citar 'interlocutores', 'fontes próximas', 'fonte segura' e outros. Este é um dos mais perniciosos métodos de disseminação de calúnias, difamação e destruição de reputações além de influenciar diretamente a opinião pública.
Exemplos:
- "
Um membro do governo disse que uma nova lei sobre posse e uso de armas será proposta amanhã.
" - "
Os peritos dizem que a melhor maneira de prevenir uma guerra nuclear é estar preparado para ela.
" - "
Sabe-se que milhares de operações desnecessárias são realizadas todos os anos.
" - "
Dizem que o presidente vai decretar outro feriado antes das eleições.
"
Referências: Davis: 73.
Estilo sem substância
Pretende-se que o modo como o argumento ou o argumentador se apresentam contribui para a verdade da conclusão.
É um fato que o modo como o argumento é apresentado influencia a crença das pessoas na verdade da conclusão, mas a verdade da conclusão não depende do modo como o argumento é apresentado.
Exemplos:
- "
Nixon perdeu o debate presidencial porque tinha suor na testa.
" - "
Trudeau sabe dirigir as massas. Ele deve ter razão.
" - "
Por que não aceitas o conselho daquele jovem elegante e bem apessoado?
"
Referências: Davis: 61.
* Esta classificação pode variar de autor para autor