Transtorno de Ansiedade de Separação na Infância: Você já ouviu falar sobre isso?
Vamos imaginar uma cena em que uma criança, naquele momento de ir à escola, começa a se queixar e repetir incansavelmente: "Fica comigo, não vai embora, mãe!", "Pai, por favor, não saia!". Tal cena retrata o dia-a-dia de diversas famÃlias; e provavelmente em algum momento você, enquanto mãe ou pai, já vivenciou essa situação e sentiu-se angustiado perguntando-se: "o que fazer?"
Episódios como esses descritos acima, são muito comuns no cotidiano de pais. Geralmente, essas solicitações vêm acompanhadas daquelas clássicas cenas de choro, relutância de sair de perto, falas de preocupação que envolvem a possibilidade que os pais sofram algum tipo de acidente, um assalto ou ficar doente, revelando assim, por parte da criança, grande temor de serem afastadas permanentemente da companhia dos pais.
De um modo geral, todos nós, sentimos ocasionalmente, ansiedade e medo diante de situações que são ameaçadoras, e com as crianças não poderia ser diferente. De fato, a ansiedade constitui um sinal de alerta, que chama atenção sobre os perigos iminentes e possibilita a pessoa planejar estratégias para fazer o enfrentamento da situação. Compreende-se, portanto, que a ansiedade é uma resposta adaptativa, necessária à sobrevivência do organismo.
É válido destacar que as crianças experimentam inúmeros medos no curso de seu crescimento e amadurecimento, por isso é importante saber que a maioria dos medos infantis é transitória, de intensidade leve e especifica de cada idade. Nesse sentido, chamamos atenção para a importância de sabermos o que é esperado para cada etapa do desenvolvimento e sua respectiva faixa etária para que possamos diferenciar o que é saudável do que poderia ser considerado um sofrimento excessivo no desenvolvimento infantil, já que em algumas crianças os medos e ansiedade podem se tornar tão intensos que chegam a afetar negativamente as atividades que elas desenvolvem na vida diária.
Entendemos que a ansiedade de separação na infância faz parte do processo de desenvolvimento infantil e funciona como mecanismo de proteção, e quase todas as crianças apresentam em determinando momento de suas vidas. Entretanto, é importante ficar atento para que esse comportamento não se transforme em um sofrimento intenso e desproporcional em relação a situação apresentada, interferindo na qualidade de vida, no conforto emocional ou no desempenho diário da criança.
O Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS), caracteriza-se essencialmente pelo medo ou ansiedade excessivos envolvendo a separação de figuras importantes de apego. Os indivÃduos (geralmente crianças), apresentam comportamento de relutâncias em afastar-se destas figuras; preocupação persistente e excessiva acerca de perigos envolvendo os pais ou a si próprio; dificuldades para dormir fora de casa ou sem uma figura de vinculação; pesadelos frequentes sobre o tema separação e queixas somáticas persistentes (dores de cabeça, náuseas, vômitos etc.). Além destes sintomas, os prejuÃzos funcionais nas áreas social, acadêmica, entre outras, devem ser clinicamente significativos, e os sintomas devem estar presentes por pelo menos quatro semanas em crianças e seis meses em adultos.
Convém destacar ainda, que a criança com TAS apresenta significativas mudanças em seu funcionamento. Os pais, familiares e educadores devem ficar atentos a alterações como: humor, dificuldades de relacionamento, evitações, inquietação, atos compulsivos e dificuldade de enfrentamento de situações como ir à escola ou afastar-se de pais e cuidadores. As situações mais comuns em que os sintomas de ansiedade de separação podem aparecer são: quando a criança é deixada na creche ou escola, é orientada a ir para a cama; é deixada em casa com babás, quando muda o ambiente familiar, passa uma noite fora de casa, entre outros.
É importante saber que a avaliação de um quadro de ansiedade é difÃcil, porque muitas vezes as crianças têm dificuldade em falar sobre as preocupações e seus medos, daà a importância dos pais e cuidadores manterem-se informados para ajudar nesse processo de identificação e encaminhamento da criança a um profissional habilitado para lidar com a situação, já que um diagnóstico deve ser feito por um profissional competente da área de Psicologia e/ou Psiquiatria.